sábado, 12 de junho de 2010

Uma história real sobre vender em 30 segundos.



Sexta feira, 11 de julho. Enquanto coloco uma blusa para me proteger do frio, escuto a narração do jogo entre África do Sul e México, o placar? Um a um. Me encontro no banco de trás do carro de um amigo, que enquanto dirige bate papo com um colega que está no banco da frente, destino? Campinas. Missão? Vender 30 livros sobre um tema religioso em algum semáforo da cidade. Após algumas horas de viagem chegamos ao local combinado, e o cenário é esse.
O semáforo fica ao lado de uma construção na saída do bairro Cambuí, ele permanece aberto durante 25 segundos e fechado durante 1minuto e 15 segundos. Três estudantes com a mochila lotada de livros chegam perto dos carros e com um sorriso bem grande e muita simpatia, falam a seguinte frase;
“Boa tarde me chamo Jonhnes estou realizando um projeto universitário através desse livro. O livro fala sobre como administrar melhor o tempo e renovar as energias no meio de tanta correria, evitando o stress. Esse projeto é muito importante para mim porque através dele eu pago a minha faculdade. Funciona assim, as pessoas estão adquirindo o livro e nos dando um valor de 5 a 10, o importante é dar aquela força pra um universitário que se formará agora em dezembro no curso de publicidade e propaganda pela UNASP ( momento de mostrar a carteirinha da faculdade ) e torcer.”
Depois de terminado a oferta é o momento que a pessoa compra ou não o livro, se comprar ótimo, mas se não comprar é hora de voltar para a calçada e esperar pela próxima parada.
No meio da tarde dessa sexta, comecei a refletir sobre o papel da publicidade e propaganda, e cheguei a conclusão de que quem faz publicidade é obrigado a vender. Ainda mais se for um comercial para Tv. Se estudantes conseguem vender livros religiosos em um sinaleiro de uma das cidades mais perigosas do Brasil, como que uma agência que conta com milhares de ferramentas para a produção de um comercial, não consegue?
Gostaria de compartilhar três coisas que aprendi na experiência dessa sexta;
1º Público alvo: Foque todas as suas energias no seu público, porque eles sempre estarão abertos para adquirir o seu produto. As pessoas que não fazem parte do seu público, também estão abertas, basta conversar com mais jeito. Mas, não hesite em deixar de lado as pessoas que não são o seu target, lembre-se que comunicação envolve tempo e dinheiro ou seja, não podemos arriscar. Lembre-se também que algumas pessoas compram por comprar, outras pela razão e outras pelo sentimento, envolver tudo isso em uma propaganda ou campanha pode ser uma tarefa difícil, mas não impossível.
2º Inteligência: Já que o importante é falar com o máximo de pessoas que puder, então não seria melhor que os estudantes colocassem uma caixa de som com a oferta do livro e só passassem nos carros pedindo o valor do livro depois? Bom, se eles não fossem presos pelo barulho das caixas, ou se não  ficassem cansados de explicar novamente a oferta para as pessoas, eles irão voltar pra casa com as mochilas cheias por não ter vendido nada. Você pode falar com 100 pessoas em 30 segundos ou pode falar com 100 pessoas em duas horas, mas eu garanto que conversar de uma maneira inteligente com 100 pessoas em duas horas dará mais resultados do que conversar de qualquer maneira com mil pessoas em cinco minutos. A comunicação nunca deve perder o foco por causa da quantidade de pessoas a serem impactadas.
3º Resultados: Antes de sair para vender sexta feira, eu tinha em mente que era obrigado a voltar pra casa no mínimo com 100 reais, porque precisava pagar um primo que me emprestou dinheiro para comprar as alianças de compromisso para o meu namoro. Queridas empresas, antes de começar a anunciar, por favor, tenham em mente quais resultados vocês querem alcançar. Comunicar por comunicar todo mundo faz. Sorrisos lindos, pessoas perfeitas, mulheres sem defeitos, carros brilhantes e muitas cores, não passam de mentiras jogadas na televisão ou qualquer outra mídia que não trará retorno, e outra, anunciar só para ver a logomarca no final do comercial é uma jogada extremamente burra, e é por isso que muitas empresas deixam de existir.

4º Tempo é dinheiro: Nos padrões de mídia atuais e devido a necessidade de se adaptar as verbas cada vez menores de comunicação, surgem a cada dia novos formatos de anúncios em televisão e rádio. Muitas vezes me perguntei se 30 segundos era o suficiente para um anúncio. Sexta feira comprovei na prática que em 30 segundos dá pra fazer muita coisa, 45minutos dá para fazer um bom contato e em 60 segundos você até enjoua de conversar com o seu público. Então, o que devemos fazer é alinhar a proposta da campanha com a verba que será investida. Cada campanha é uma campanha, seguir padrões de 30, 45, 60 segundos é coisa de agência do passado. "Midieiros" e "planejadorezeiros"  devem estar dispostos a inovar, basta ter coragem e inteligência.
Se você está se perguntando se é possível vender um livro religioso no sinaleiro? A resposta é sim. Em uma tarde depois de muito trabalho tive um lucro de R$140 reais e um amigo meu foi bem melhor, vendendo 57 livros lucrando mais ou menos R$350 reais. Isso que nós não tínhamos nenhum galã do lado ou o escritor para fazer um testemunhal sobre o livro, não tínhamos nenhuma foto bem tratada ou um cantor famoso para produzir um jingle, se tivéssemos talvez não venderíamos nada.
Nós comunicadores, devemos utilizar as ferramentas certas para alcançar um objetivo simples, vender. E se estudantes conseguem pagar a faculdade vendendo livros no sinaleiro, nós publicitários somos obrigados a vender através de nossos anúncios! Ou será que vender livro sobre o sábado no sinaleiro é mais fácil do que vender qualquer coisa pela televisão?

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