segunda-feira, 7 de junho de 2010

Os burros somos "nózes"


Aos 18 anos iniciei uma caminhada que com certeza mudaria a minha vida. Graças a Deus faço parte da minoria da população que tem condições de ingressar em um curso de graduação. Por diversos fatores escolhi estudar, ler e me esforçar para que um dia me tornasse um comunicador, e é isso que venho buscando nos quatro anos do curso de publicidade e propaganda.
Confesso que no início tinha muita vontade de desenvolver habilidade somente em artes gráficas, e ficava entusiasmado quando via na grade alguma matéria relacionada à tecnologia ou design. Miopia de calouro, que se curou com o tempo e com as matérias de planejamento, redação e muita matemática e estratégias ensinadas nas aulas de mídia.
Na faculdade por diversas vezes senti a prepotência que alguns alunos demonstram quando o assunto é a população brasileira. População essa que é tachada por muitas vezes de burra pelos queridos alunos, tudo isso pelo sucesso que os programas de “baixaria” fazem na TV, mídia essa que em um mundo novo continua reinando como rainha velha.
Foi então que ingressei em um dos maiores dilemas da minha carreira de futuro comunicador. Vou tentar compartilhar com vocês a minha visão;
Os alunos de publicidade e de jornalismo acham bonito chamar o “seu Zé” lá da vendinha do bairro de burro, isso pelo fato de que o “seu Zé” não lê revistas ou livros chatos, o “seu Zé” só tem acesso as notícias através dos jornais na televisão. Mas, os nossos queridos alunos esquecem que todo o conteúdo jornalístico ou de entretenimento da Tv é produzido pelos profissionais que eles sonham em um dia se formar!
Então os alunos chamam de burros as pessoas que assistem aos conteúdos gerados pelos profissionais que eles um dia sonham em ser? Sim. Mas, se os profissionais produzissem conteúdos inteligentes com um formato novo o “seu Zé” acessaria? Talvez sim, talvez não. Nós não conseguimos responder, porque os conteúdos cada vez ficam piores e repetitivos.
Se os brasileiros só têm acesso a programas babacas, logo eles irão dar audiência para esses programas produzidos por comunicadores mais babacas ainda. Mas muitos não o fazem porque são babacas, mas sim porque não encontram nada diferente nas outras emissoras, não existem opções inteligentes para o povo. É a mesma coisa que aconteceu no nordeste, região aonde se encontra boa parte da torcida do flamengo, vale lembrar que em algumas cidades só se encontra torcedores do flamengo ou de times do Rio de Janeiro. Isso pelo fato do flamengo ser o melhor time do Brasil? Não, mas sim pelo fato de que os torcedores só tinham acesso aos jogos do flamengo pelo rádio, ora, se esses só escutavam sobre um time, por que iriam torcer pelos times que eles nem conheciam? Não faz sentido algum.
Queridos alunos de publicidade, jornalismo ou qualquer outro curso de comunicação. Enquanto nós não disponibilizarmos conteúdos interessantes e inteligentes para a população brasileira, somos hipócritas em rotularmos eles com qualquer termo. Claro que será um grande desafio, mas existem vários modelos que mostram que é possível. Enquanto nós comunicadores não tivermos coragem de cumprir o nosso papel e dar mais opções de notícias ou publicidade inteligente para o povo, os burros com certeza somos “nózes”.

2 comentários:

Tales Tomaz disse...

Jonhnes, esse ponto de vista é muito importante. Discuti isso com a turma do 2º ano de Jornalismo do Unasp em duas disciplinas no semestre passado. Mas não podemos ignorar o fato de que o sistema televisivo é regido pelas leis de mercado, que pendem sempre a favor do consumidor, isto é, da demanda, o que significa que ela determina mais do que os produtores. A constatação disso não exime nossa responsabilidade, apenas nos mostra que o caminho é ainda mais complexo e passa, na minha opinião, pela educação formal.

Jonhnes disse...

Bem lembrado Tales. Nesse post eu tentei mostrar mais o fato dos alunos pararem de chamar o tachar os brasileiros como burros ou como um povo que não está preparado para receber um conteúdo mais inteligente e de qualidade. Infelizmente, os formatos de programas televisos que rodam por aí, são muito fracos, mas um exemplo de que podemos arriscar alguma coisa mais inteligente é o CQC, que aborda várias notícias, mesmo que de uma maneira meio "cirquense" e o público ainda se diverte. O importante é conscientizar os alunos de que programas mais inteligentes só serão possíveis quando destigmatizarmos a idéia de que o brasileiro só gosta de porcaria, quando na verdade não é assim.